A AIDS, Um Cartão de Natal e o Preconceito


Estava com pressa para chegar em casa, caminhando aos passos largos no primeiro piso do shopping Bay Market, centro de Niterói. Por ser localizado junto com o terminal rodoviário João Goulart e ao lado da estação das barcas, mais de 300 mil pessoas passam por essa região diariamente.  Eu era apenas mais um no meio da multidão e inesperadamente sou abordado por uma senhora, com cerca de 50 anos, com um cartão de Natal em uma das mãos:

- Moço, tem um minuto para mim?
- Estou com pressa, vamos andando e você vai falando - respondi sem parar

Ao ver o cartão de Natal já deduzi que se tratava de alguém com Aids. Eles costumam fazer parte de alguma organização e sempre vendem alguma coisa para arrecadar fundos. Se identificam com documentação que comprova que possuem AIDS e que fazem parte dessa organização. Eu já comprei um conjunto de canetas há alguns anos atrás.

- Estou vendendo esse cartão aqui por dois reais para arrecadar dinheiro, pois eu tenho AIDS. Você tem algum preconceito com quem tem AIDS? - eles perguntam isso para ir explicando como funciona a organização.

Eu olhei nos olhos dela e não acreditei no que me perguntou. Preconceito com alguém que tem AIDS. Isso ainda existe? - pensei comigo mesmo.

- Você é meu semelhante. Não posso ter algum preconceito com você - respondi após parar.

Neste momento, um sorriso lindo se abriu. Eu nunca vou me esquecer daquele rosto, que estava um pouco amargurado e preocupado, sorrir para mim. Como já sabia do que se tratava e não queria tomar o tempo dela, parei e perguntei diretamente:

- Quanto custa?
- Dois reais.

Tirei a nota da carteira enquanto a multidão passava entre nós. A minha reação naquele momento até me pegou de surpresa. Meus braços a envolveram e dei um beijo em sua cabeça desejando um feliz Natal. Novamente um sorriso se abriu, ele ficará para sempre em meu coração.

Sei que não ia ficar bem se não tivesse feito isso, meu coração estava leve e feliz por ter reagido daquele forma. Continuei caminhando com passos largos, pensando como que podem ter pessoas que são preconceituosas com outro ser humano. Quantas pessoas já ignoraram essa senhora quando disse que tem AIDS? Fico chocado em saber que em pleno século XXI ainda existam esses tristes atos em nossa sociedade.

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