No dia 15 de maio de 2016, o Brasil perdeu o seu cantor de maior talento, diversidade e longevidade: Cauby Peixoto. Aos 85 anos de idade ainda estava trabalhando em pleno vapor, isto é, fazendo shows e gravando. Seus trabalhos se basearam em vários estilos: rock, bossa nova, mpb, samba, jazz. Na última década, foi de Roberto Carlos a Beatles, passando por Frank Sinatra e Nat King Cole.
Ouvir Cauby te faz mergulhar pelas mais ricas raízes da música brasileira e internacional. Me lembro muito bem quando passei a ouvi-lo. Era uma tarde de outono de 2006 - eu estava com 17 anos - passando pela maior avenida de Niterói, a Amaral Peixoto, quando olhei um painel de dvds em uma banca de jornal. Instantaneamente meus olhos fitaram a foto daquele cantor, já idoso, com roupa brilhantes que me fazia lembrar Elvis, que já admirava. Era o Cauby Peixoto. Estereótipos do senso comum, que infelizmente são as mesmas da maioria dos brasileiros, foram disparados: bicha velha, cantor de velho, ultrapassado, chato. Como minha filosofia desde o início da minha adolescência é quebrar padrões da minha faixa etária, peguei o dvd e comecei a olhar os nomes das músicas. Olhei uma por uma. Neste momento, o jornaleiro, um senhor na casa dos 50 anos, olhou surpreso para mim.
Das 21 músicas, só conhecia De Volta Pro Aconchego e New York, New York. Tal desconhecimento me constrangeu. Como eu poderia conhecer absolutamente todos os trabalhos do Elvis e ser tão ignorante nas músicas de um cantor do meu próprio país?! Paguei o dvd com o jornaleiro me olhando como se eu fosse um extraterrestre. Assisti uma, duas, três, quatro vezes seguidas. Presenciei um cantor com uma voz linda, cantando músicas que não estavam sendo tocadas nas rádios, músicas estas que não eram momentâneas, mas sim clássicas, dessas que ficam para sempre. Fiquei abismado como as pessoas poderiam lembrar dele mais pela sua opção sexual e pelas roupas do que pela sua voz. Fui acompanhando seu trabalho, sempre na oportunidade de um dia poder assistir um show dele, cogitei até ir ao lendário Bar Brahma (São Paulo) em um segunda-feira. Até que finamente no dia 21 de dezembro de 2015, no teatro Net Rio, as luzes se apagaram e ele começou a cantar com as cortinas ainda fechadas - sua voz era tão afinada e potente que no primeiro momento pensei que se tratava de alguma gravação de um cd que iriam vender - era ele, ali, cantando aos seus 85 anos de idade tão melhor quanto no dvd do seu show de dez anos atrás.
Cauby e eu - 21 de dezembro de 2015 |
O show terminou e fiquei esperando na porta que me disseram que ele sairia. Havia uma aglomeração de algumas senhoras que já haviam estado com ele inúmeras vezes. Perguntei se ele era atencioso, todas disseram que ele os tratava muito bem. Ficamos ali uns 30 minutos até a porta se abrir. Vi aquele homem alto, andando com dificuldades, mas sozinho, aparentando disposição e força de vontade. Na porta, sua produção colocou uma cadeira de rodas pelo lado de fora, parecia que não passava por ela. Assim que acabou de se sentar, já foi se preparando para dar um selinho em uma fã. Pelo que entendi, aquele gesto entre os dois era repetido por anos e décadas, ele parecia estar esperando por ela e pelo seu beijo. Entre abraços e beijos, o pessoal da sua produção começou a empurrar a cadeira, neste momento pedi para tirar a foto e Cauby olhou para mim. Quem empurrava, disse para eu ir andando que lá na frente eu poderia tirar a foto, senão muitas outras pessoas também iam querer e Cauby precisava ir embora. Logo mais a frente, pararam a cadeira e lá fui eu tirar um selfie com ele. Disse que ele era o melhor cantor do Brasil, que me inspirava muito (chegar na terceira idade trabalhando não é para qualquer um). Ao ouvir, segurou na minha mão e deu um sorriso sincero. Foram empurrando a cadeira e fui acompanhando numa rampa em espiral que termina no estacionamento, conforme ia descendo, ele ia cantando uma música natalina. O show já tinha acabado e ele queria continuar cantando. Cauby tinha amor pela música, vivia para cantar. Ainda tive a oportunidade de assisti-lo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no dia 31 de março, quase dois meses antes de sua partida.
Infelizmente, temos o costume de valorizar mais o que vem de outros países ao invés de conhecermos e apreciarmos nossa própria cultura. Se tornou comum as pessoas se lembrarem dele como sendo gay do que pelo seu próprio talento. O curioso é que ninguém deixa de ouvir Freddy Mercury (Queen) ou Elton John pela opção sexual deles. Os brasileiros não fazem questão de conhecer o que há de melhor em sua música, ao contrário disso, ficam a mercê da mídia que empurram seus cantores comerciais de playback, glúteos avantajados e letras pobres.
O show do dvd que comprei em 2006 - Realizado em Pernambuco:
Cauby canta Beatles:
Too Young - Sucesso de Nat King Cole:
Cauby canta A Distância - Sucesso de Roberto Carlos:
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